terça-feira, 17 de maio de 2016

RELAÇÕES ENTRE TERMINOLOGIA, LEXICOLOGIA E SEMÂNTICA

Introdução

Este trabalho é parte do projeto de pesquisa apresentado no CELLIP, apresenta um estudo comparativo entre Terminologia, Lexicologia e Semântica. A Terminologia que tem como objetivo tratar do vocabulário que possui um sentido particular dentro de um discurso especializado, a Lexicologia que se ocupa do léxico das línguas em geral e a Semântica que recorre à etimologia das palavras para conceituar um vocábulo ou um termo por meio de sua dimensão significativa. 

1.Terminologia 
O conceito de Terminologia apresenta multiplicidade de sentidos. Segundo Cabré (1993, p.82), para definir a palavra terminologia é preciso considerar, pelo menos, três conceitos diferentes: “o conjunto de princípios e de bases conceituais que regem o estudo dos termos; o conjunto de diretrizes que se utilizam no trabalho terminográfico; o conjunto de termos de uma determinada área de especialidade”. Assim sendo, a lexia terminologia é, pois, polissêmica, podendo significar a disciplina terminológica que possui princípios, fundamentos teóricos e métodos de trabalho próprios, a prática que constitui o inventário de termos e o próprio produto gerado por essa prática, isto é, o conjunto dos termos de um domínio específico. 
A Terminologia considera as palavras enquanto um conjunto delimitado por uma situação concreta de utilização, tem por objeto a identificação e delimitação de termos e conceitos. Conforme Dubuc (1985, p.21), a Terminologia abrange o vocabulário técnico que resulta de quase toda a atividade produtora do agir humano, seja ela no domínio das artes, das ciências ou das profissões (os diversos ramos da indústria, da atividade econômica e da exploração de recursos naturais). Assim sendo, ela apresenta as estratégias que permitem agrupar e estruturar os conjuntos de termos específicos de cada domínio do conhecimento. Para Elejalde (1997), o trabalho terminológico consiste basicamente em uma teoria semântica e em uma série de técnicas aplicadas sobre um corpus composto por um ou vários textos próprios a uma determinada disciplina ou área do conhecimento. O seu resultado é a elaboração de glossários e dicionários especializados que compilam conjuntos de termos de um domínio específico.

2. A unidade terminológica 
Os termos são as unidades de base da Terminologia, designam os conceitos próprios de cada domínio do saber. Para Dubuc (1985, p. 59), o “termo” ou a “unidade terminológica” designa uma noção própria a um domínio estudado (unidade conceitual) e está muito ligado à situação concreta de uso. É preciso, pois, que o termo esteja vinculado à real necessidade de expressão e comunicação do usuário, do pesquisador de uma determinada disciplina, de uma técnica ou de uma ciência em desenvolvimento. Assim, qualquer signo linguístico poderá, a princípio, adquirir estatuto de unidade terminológica, desde que envolvido por uma acepção particular em um discurso especializado. Cabré 
(1993) define o termo como unidade semiótica constituída de conceito e denominação cuja identidade se justifica apenas dentro  de uma área específica. Segundo a autora, se analisadas isoladamente, as unidades terminológicas se confundem com as unidades do léxico comum, no entanto, se situadas devidamente em um universo de discurso e analisados os seus aspectos pragmáticos e comunicativos, a especificidade das unidades terminológicas se torna evidente. De acordo com Barbosa (1990, p. 156), o termo é a “unidade padrão” da Terminologia. O “conjunto terminológico de ciências básicas, ciências aplicadas e/ou tecnológicas autoriza a prática terminológica (a Terminografia)” que consiste na recuperação ou criação de termos técnico-científicos, na sua compilação, organização e armazenagem, apresentando como resultado os dicionários terminológicos.

3. Termo e lexia 
Podemos dizer que termo e lexia são unidades semelhantes. Segundo Cabré (1999, p. 25), “uma palavra é uma unidade descrita por um conjunto de características linguísticas sistemáticas e dotada da propriedade de referir-se a um elemento da realidade. O termo é uma unidade de características linguísticas similares, utilizada em um domínio de especialidade”. Os termos e as palavras se diferenciam pelos aspectos pragmáticos, assim sendo, os usuários das palavras são os falantes de uma língua e os usuários dos termos de uma especialidade são os profissionais da disciplina em questão. 
Desse modo, como disciplina aplicada, a Terminologia difere da Lexicologia pelos seus métodos. A Lexicografia que se ocupa da elaboração de dicionários é, pois, um ramo aplicado da Lexicologia. A Terminografia também se ocupa da elaboração de dicionários especializados e de glossários terminológicos e constitui-se num ramo aplicado da Terminologia (CABRÈ,1999, p. 27).

4. Neologia e Neonímia 
Sendo o léxico considerado um inventário aberto e mais diretamente ligado à realidade extralinguística, o mesmo fornece ao falante possibilidades constantes de criação neológica. Os neologismos surgem, via de regra, para suprir uma necessidade de expressão ou denominação sentida pelo falante, podendo servir para designar produtos, procedimentos, equipamentos, conceitos novos ou novas maneiras de perceber a realidade. E com os avanços científicos e tecnológicos constantes, próprios do mundo moderno, essas criações no léxico passam a ser freqüentes nas linguagens especiais, mais particularmente nas terminologias técnicas e científicas, onde as novidades surgem com abundância.  Barbosa (2001, p. 46) distingue esses tipos de criações lexicais ao explicar que os “neologismos são produzidos concomitantemente a recortes culturais, articulados aos quais sustentam a ‘visão de mundo’ e o sistema de valores de uma comunidade linguística, a partir da análise dos dados da experiência comum e gerais, do grupo social; neônimos são gerados, via de regra, no âmbito de um grupo restrito de especialistas, do seu universo de discurso específico - tecnoleto.” 
Alves (2001, p. 27-28) acrescenta que “na língua comum, neologismos constituem unidades lexicais, as unidades do léxico geral da língua. Já nos tecnoletos[línguas de especialidade], os neologismos constituem termos, elementos que integram uma terminologia. 
A neonímia é portanto a neologia terminológica ou neologia das linguagens especializadas. Rondeau (1984, p. 129-130) estabelece em seu estudo as características específicas do neônimo. Para este autor, trata-se de um signo linguístico semelhante ao termo, pois envolve conceitos próprios de um domínio técnico especializado. Suas características são: (1) a univocidade, ou seja, a relação única entre significante e significado, ou entre denominação e conceito; (2) a mono-referencialidade, ou seja, um significante terminológico simples ou complexo, representa um único conceito para o especialista.

5. Lexicologia 
A Lexicologia baseia-se nas palavras. Huber (2000, p. 30) explica que tal ciência é definida “mais comumente como o estudo científico do vocabulário ou [...] do léxico”. Para Vilela (1995, p. 140), léxico é “o conjunto das palavras por meio das quais os membros de uma comunidade linguística comunicam entre si”, enquanto que “o vocabulário é uma subdivisão do léxico, como, por exemplo, o léxico de um autor, o léxico de um texto...”. Tendo em vista a diferenciação estabelecida, deve-se considerar a Lexicologia como o estudo do léxico. Contudo, para fins práticos, podemos limitar este estudo a um vocabulário específico (vocabulário do futebol, da música ou do cinema, por exemplo). A unidade de estudo da Lexicologia é portanto a palavra. Alguns linguistas, no entanto, preferem não adotar o termo “palavra”, visto que, pertencendo à linguagem mais comum, pode causar equívocos. Biderman (1978, p. 130-133) adota os termos “lexia” e “lexema”. O segundo designa a unidade léxica abstrata em língua que constitui um elemento permanente do sistema linguístico. Lexias são as formas concretas que aparecem no discurso.

6. Semântica
Segundo Dubuc (1985, p. 33), na elaboração de dicionários a Semântica oferece uma “dimensão diacrônica do vocábulo”, ela segue um fio condutor na abordagem do vocábulo, contemplando-o desde os primórdios de seu surgimento, passando pelos seus sentidos mais específicos e/ou técnicos até chegar a usos mais regionais do vocábulo, se tais existirem. Conforme verificamos em Raimundo (2003, p. 60), “os dicionários padrões da língua são um bom exemplo do tratamento dispensado pela Semântica ao léxico, ela investiga o percurso da palavra para mostrar as diversas realidades às quais a palavra é aplicada”.  De acordo com Biderman (2001, p. 16) “embora se atribua à Semântica o estudo das significações linguísticas, a Lexicologia faz fronteira com a Semântica, já que, por ocupar-se do léxico e da palavra, tem que considerar sua dimensão significativa”. A relação entre Terminologia e Semântica supõe uma teoria de referência. A Terminologia estuda a natureza dos conceitos, as relações entre os conceitos, a atribuição de termos a conceitos e, ainda, a natureza e a criação dos termos, de acordo com Cabré (1993), em Terminologia, o termo deve pertencer a um sistema conceitual específico sua definição adquire um perfil preciso dentro de um domínio especializado.
No dicionário terminológico o termo é concebido como um conceito integrante de um sistema de conceitos específicos. O papel da Semântica na pesquisa terminológica é de suma importância para a delimitação dos termos, nas áreas, subáreas e campos semânticos. Conforme objetivos determinados com antecedência, a seleção do conjunto dos termos deve estar ligada a um domínio de atividade, a uma disciplina, a uma técnica, a uma ciência. Segundo os princípios básicos da teoria da Terminologia, um termo só é termo se pertencer a um campo de especialidade. Uma mesma realidade pode ser interpretada por meio de conceitos diferentes por diferentes disciplinas.

7. Referências bibliográficas: 
ALVES, Ieda Maria (2001). “Neologia e tecnoletos”. In: OLIVEIRA, Ana Maria Pinto Pires de & ISQUERDO, Aparecida Negri (orgs.). As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia (2ª edição). Campo Grande, MS: Ed. UFMS: 25-3.
BARBOSA, Maria Aparecida (1990). “Lexicologia, lexicografia, terminologia, terminografia, identidade científica, objeto, métodos, campos de atuação”. Anais do II Simpósio Latino-Americano de Terminologia e I Encontro Brasileiro de Terminologia Técnico-Científica. Brasília: 152-158. 
BIDERMAN, Maria Tereza Camargo (1978). Teoria linguística: linguística quantitativa e computacional. Rio de janeiro: Ao Livro Técnico. “Introdução: as ciências do léxico” 
__________(2001). “Introdução: as ciências do léxico”. In: OLIVEIRA, Ana Maria Pinto Pires de & 
CABRÉ, M. Teresa (1993). La terminología: teoría, metodología, aplicaciones. Barcelona: Editorial Antártida/Empúries. 
_________(1999).  La terminología: representación y comunicación. Barcelona: IULA, Universitat Pompeu Fabra. 
DUBUC, Robert (1985). Manuel pratique de Terminologie. Québec: Linguatech. 
ELEJALDE F. Alfredo. Reflexiciones sobre la Terminología (1997). Disponível em http://macareo.pucp.edu.pe/~elejalde/ensayo/terminologia, acesso em: 04/02/02. 
HUBER, Ricardo Correia Lima. Empréstimos Lingüísticos e Estrangeirismos nos jornais de Londrina, Manaus e Rio de Janeiro(2000). Dissertação (Mestrado em Letras), Universidade Estadual de Londrina. 
RAIMUNDO, Eidele Maria (2003). Um estudo terminológico bilíngüe (português-francês) do vocabulário da moda: subárea vestuário. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem), Universidade Estadual de Londrina. 
RONDEAU, Guy (1984). Introduction à la Terminologie. Québec: Gaëtan Morin. 
VILELA, Mário (1979). Estruturas Léxicas do português. Coimbra: Almedina. 
(1995). Léxico e Gramática. Coimbra: Almedin

2 comentários:

  1. Bom texto, indicado para os alunos do segundo ano do Bacharelado em Língua e Cultura Francesa.

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  2. Bom texto, indicado para os alunos do segundo ano do Bacharelado em Língua e Cultura Francesa.

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